março 14, 2005

Unwritten

Leio lentamente tudo aquilo que não escrevi. Procuro-te, serenamente, por entre as linhas que avisto da minha janela. Olho para a rua, para as pedras da calçada pisadas por tantos que passam simplesmente e tento encontrar-me, algures, perdida.
Sinto uma Paz, demasiado pacífica (isto existe?!)... uma tranquilidade que me inquieta os nervos. Não devia estar assim. Não devia sentir isto. E sinto(-te) assim... aqui.
Olhos postos novamente nesta folha que carrega tudo aquilo que não escrevi. Novamente dou por mim a procurar-te por entre as sombras do sol. Consegues descortinar a linha do horizonte? É igual? É ainda igual aquel’ outra febre que juntos desenhamos, um dia, ao sol-pôr?
Anoitece. À noite tudo é mais meu. A noite é mais minha. Saio para a rua e seduzo a lua, com sorriso matreiro, de alguém que já sabe o que vai acontecer. Olhos levantados para as estrelas. Há uma mais solitária do que as restantes. Nota-se pelo brilho que emana. Cumprimento-a. E ela sorri-me com a sua luz, ainda mais ofuscante do aquela que trazia vestida quando a avistei. Lembro-me de ti, com a mesma delicadeza com que o pintor oferece a sua alma à tela. Sorriso contido.
Começa a chover. Gosto do cheiro da terra molhada. Agita o sangue que corre nas veias. Vida. Deixo cada gota percorrer o meu corpo para me lembrar de que estou viva. Parece que te vejo ao longe. Talvez miragem. Talvez um vulto. Aproxima-se de mim. Passa. Invento um novo eu. E sigo o meu caminho. Não me conhece. Eu não o conheço.
Leio lentamente tudo aquilo que ainda não escrevi e pergunto-me se, neste momento, conseguirias adivinhar a cor dos meus pensamentos? A cor dos meus olhos? Mas somos apenas estranhos neste mundo de humanos...

...e hoje é somente o primeiro dia do resto da minha vida.