energia nuclear em Portugal?!
esqueci-me de como se percebe português*, só pode!
(* ideia roubada a um episódio desta série)
junho 30, 2005
a quente
o sono continua.
acrescido de dor de cabeça.
a doer-me o braço direito, desde os dedos até ao cotovelo.
e pergunto-me se custa muito dizer, no final de um pedido (a soar a exigência), quando puderes. é que autoritarismo comigo não funciona. e essa pessoa nem é minha superior hierárquica. eu até tenho pronto o que foi pedido. mas só dou quando me apetecer.
e hoje faço pausas nos números, prometo.
bom dia!
[até pode ser mau feitio. ou rabujice de uma noite mal dormida. ou da "guerrilha" que prevejo para amanhã. mas arreliam-me a má educação e as injustiças de algumas pessoas. tenho dito!]
acrescido de dor de cabeça.
a doer-me o braço direito, desde os dedos até ao cotovelo.
e pergunto-me se custa muito dizer, no final de um pedido (a soar a exigência), quando puderes. é que autoritarismo comigo não funciona. e essa pessoa nem é minha superior hierárquica. eu até tenho pronto o que foi pedido. mas só dou quando me apetecer.
e hoje faço pausas nos números, prometo.
bom dia!
[até pode ser mau feitio. ou rabujice de uma noite mal dormida. ou da "guerrilha" que prevejo para amanhã. mas arreliam-me a má educação e as injustiças de algumas pessoas. tenho dito!]
junho 29, 2005
junho 23, 2005
junho 09, 2005
I will be back
eu vou,
eu vou,
eu vou de férias vou,
eu vou
eu vou
lá lá lá lá lá lá lá
vou ali às Bahamas e volto já já!
anda!
PS: não te esqueças do leque... ;)
eu vou,
eu vou de férias vou,
eu vou
eu vou
lá lá lá lá lá lá lá
vou ali às Bahamas e volto já já!
anda!
PS: não te esqueças do leque... ;)
junho 07, 2005
parem tudo!
(tenho o jantar para fazer, mas é importante! tenho de partilhar isto.)
o Brad Pitt enviou-me um mail! estou que nem posso! ;)
passo a citar:
Dear Friend,
Every single day 30,000 children die from the effects of extreme poverty and it almost never makes the news. Tonight, that's going to be different.
I visited Africa last month with Diane Sawyer to record a "Primetime Live" special, and tonight that program will air at 10pm/9pm Central on ABC. The show is not only about the emergency in Africa, but also about successful projects that are saving people's lives and building new hope in entire communities.
Yesterday the ONE campaign asked all of us to do something that will make a real difference for the people we met in Africa: sign a letter to President Bush asking him to seize the best opportunity we've had in decades to actually end extreme poverty. The ONE letter asks the President to support three bold commitments at the G8 summit of world leaders on July 6th: more and better international assistance, debt cancellation and trade reform.
Last week I signed the ONE letter to President Bush, and since yesterday thousands of you have too. That is an amazing show of support. The ONE campaign has set a goal to get ONE million letter signatures by the upcoming G8 summit on July 6th. We can get half way there by the end of this week if you join with me and sign the ONE letter to President Bush and ask your friends and family to sign as well:
Sign the ONE letter to President Bush.
Thanks, and please tell all your friends to watch the show tonight: 10pm/9pm Central on ABC.
Brad Pitt
[já disse aos amigos Brad. e já assinei a carta]
o Brad Pitt enviou-me um mail! estou que nem posso! ;)
passo a citar:
Dear Friend,
Every single day 30,000 children die from the effects of extreme poverty and it almost never makes the news. Tonight, that's going to be different.
I visited Africa last month with Diane Sawyer to record a "Primetime Live" special, and tonight that program will air at 10pm/9pm Central on ABC. The show is not only about the emergency in Africa, but also about successful projects that are saving people's lives and building new hope in entire communities.
Yesterday the ONE campaign asked all of us to do something that will make a real difference for the people we met in Africa: sign a letter to President Bush asking him to seize the best opportunity we've had in decades to actually end extreme poverty. The ONE letter asks the President to support three bold commitments at the G8 summit of world leaders on July 6th: more and better international assistance, debt cancellation and trade reform.
Last week I signed the ONE letter to President Bush, and since yesterday thousands of you have too. That is an amazing show of support. The ONE campaign has set a goal to get ONE million letter signatures by the upcoming G8 summit on July 6th. We can get half way there by the end of this week if you join with me and sign the ONE letter to President Bush and ask your friends and family to sign as well:
Sign the ONE letter to President Bush.
Thanks, and please tell all your friends to watch the show tonight: 10pm/9pm Central on ABC.
Brad Pitt
[já disse aos amigos Brad. e já assinei a carta]
junho 06, 2005
na volta das marés
desfolho as folhas escritas, quando a minha pele se revelava outra pele, e reparo que pouco ficou das entrelinhas que hoje sei sobrarem. ou talvez nem sobrem. respiram momentos passados. respiram os demasiados silêncios que os meus olhos observaram. a ausência tocada pelas minhas mãos. o parco riso que os meus lábios esboçaram. a minha vida, quando a minha pele se revelava outra pele. são apenas, e tão somente, isso.
serenamente, junto as folhas. guardo esses escritos nas mesmas pastas. onde estão há já algum tempo. fecho o armário. há uma tranquilidade no movimento do meu braço. sei da sua importância, mas também sei que já não são aqueles sentimentos que me fazem mover. que tantas vezes me deixaram ficar quieta, numa espécie de fundo do mar.
porque não são as palavras que me levam até ti. e amo-te, também por essa capacidade de aprender a não ter medo de sentir o tudo, sem me atirar à primeira folha branca que encontro. sem ansiar um lápis. sem me sentar nos meus silêncios. e se, por vezes, sinto essa vontade de escrever, e as letras não me bastam, é por saber do teu sorriso no encontro dos meus olhos. e a respiração desse instante é tanto ou mais do que todas as palavras que poderia encontrar para descrever. as palavras não me bastam. é mais.
e lembro-me do teu riso,
quando bailo no crepitar do teu olhar.
serenamente, junto as folhas. guardo esses escritos nas mesmas pastas. onde estão há já algum tempo. fecho o armário. há uma tranquilidade no movimento do meu braço. sei da sua importância, mas também sei que já não são aqueles sentimentos que me fazem mover. que tantas vezes me deixaram ficar quieta, numa espécie de fundo do mar.
porque não são as palavras que me levam até ti. e amo-te, também por essa capacidade de aprender a não ter medo de sentir o tudo, sem me atirar à primeira folha branca que encontro. sem ansiar um lápis. sem me sentar nos meus silêncios. e se, por vezes, sinto essa vontade de escrever, e as letras não me bastam, é por saber do teu sorriso no encontro dos meus olhos. e a respiração desse instante é tanto ou mais do que todas as palavras que poderia encontrar para descrever. as palavras não me bastam. é mais.
e lembro-me do teu riso,
quando bailo no crepitar do teu olhar.
junho 02, 2005
gaja que é gaja
e tem o namorado algemado aos livros, o que é que faz quando está com a telha?
compras, pois está claro! vim de lá renovada.
[mesmo que só tenha comprado uns boxers para oferecer ao mano]
compras, pois está claro! vim de lá renovada.
[mesmo que só tenha comprado uns boxers para oferecer ao mano]
basta!
a minha vida, que existe além do défice, segue dentro de momentos.
(assim como que a seguir ao jantar, que ainda vou ter de fazer)
(assim como que a seguir ao jantar, que ainda vou ter de fazer)
momento de poesia
Não é uma coisa só.
São muitas coisas nuas.
Não é o desabar de uma casa.
É percorrer os seus escombros.
Não é aguardar por um filho.
É voltar a sê-lo.
Não é penetrar em ti.
É sair de mim.
Não é pedir-te que faças.
É fazer-te.
Não é dormir lado a lado.
É estar jacente de mãos dadas.
Não é ouvir vento e chuva.
É franquear-lhes a cama.
E relâmpago que pela terra se funde.
(O Lugar do Amor, António Osório)
São muitas coisas nuas.
Não é o desabar de uma casa.
É percorrer os seus escombros.
Não é aguardar por um filho.
É voltar a sê-lo.
Não é penetrar em ti.
É sair de mim.
Não é pedir-te que faças.
É fazer-te.
Não é dormir lado a lado.
É estar jacente de mãos dadas.
Não é ouvir vento e chuva.
É franquear-lhes a cama.
E relâmpago que pela terra se funde.
(O Lugar do Amor, António Osório)
a administração pública
porque sempre fui à luta,
porque me considero uma pessoa solidária, defensora até de algumas utopias,
porque estou farta de ouvir na boca dos outros que a culpa é nossa,
porque é mais fácil atribuirem-nos todas as culpas do que tentar ler o que está atrás dos números,
porque até a maior parte dos funcionários públicos dá o litro, sem nunca ter ouvido uma palavra de apreço, coragem, agradecimento,
e não, nem é por andarem a brincar com as nossas expectativas (ainda sou nova, não tenho medo de trabalhar, e o meu esforço individual até foi reconhecido recentemente).
porque, acima de tudo isto, permaneço fiel aos meus princípios.
"Pensamentos íntimos de um funcionário público
Luís Fernandes (*)
De cada vez que houver um governo diferente ficamos com a respiração suspensa à espera do que vai acontecer. Esta deve ser mais uma das características da pós-modernidade a que ainda não me habituei: tudo o que parece certo pode alterar-se ou desaparecer a todo o momento.
Pronto, desfez-se o mistério. Agora já sabemos por que é que Sócrates andava tão calado: enchia pulmões para dizer tudo duma vez. E o discurso saiu como a catadupa duma enxurrada abatida sobre as nossas cabeças, já carecas doutras lutas. Desamparado, caio no soalho. Sou funcionário público, não podia ficar indiferente. Eu sei que aquilo que esperamos dum funcionário público é que funcione e não que faça confissões. Mas é chegado o momento de quebrar as ortodoxias. Não olhem para nós dessa maneira: por trás dum funcionário público há sempre uma pessoa, também temos alma, também nos magoamos e quem não se sente não é filho de boa gente. Quero pois que vejam a pessoa e não o funcionário, e toda a pessoa tem direito a desabafar. Se existem as Confissões dum Drogado, diários de lunáticos, memórias de seres bizarros e fantásticos, por que razão não haveria um funcionário público de tornar públicos os seus pensamentos íntimos? Eu sei que surpreende, também não imagino o chefe da conservatória ou o empregado das finanças a exteriorizarem tal vida interior - e no entanto sei o que sentem depois de ouvir Sócrates a anunciar as medidas do Governo para combater o défice.
As frases terríveis bailavam-me na cabeça: "convergência das pensões com as do regime geral". Nivelamento por baixo, pensei. Como no campeonato. O Benfica, o Benfica! Os pensamentos atacavam-me em tropel, desordenados, esmagadores. E Sócrates é benfiquista! Batia tudo certo - quer dizer, batia tudo errado. O que é o regime geral? E uma pensão? A cabeça latejava-me. "Que foi?", gritaram-me da cozinha. "É ele! É ele!", respondi, caindo a seguir num torpor de que só acordaria com o golo da vitória do Setúbal na final da Taça. Afinal, ainda há harmonia no mundo.
Não discuto a necessidade das medidas de restrição agora anunciadas - deixo para os economistas, deixo para os indivíduos de vocação eminentemente política. Descrevo apenas dum modo singelo o efeito psicológico deste súbito anúncio dum défice desmesurado e das correspondentes medidas de restrição:
1. Mentira: não, não é o que estão a pensar. Não sei quem nos andou a mentir: 2%, 3%, 5%, 6,83%... Sei, isso sim, que me sinto um mentiroso. Tinha dito aos amigos todos, tinha dito aqui no jornal, tinha dito no barbeiro: não voltarei a falar no défice. E zás!, aqui está o primeiro efeito indesejável das medidas do Governo: mais um golpe na minha auto-imagem. Como vou explicar aos meus filhos esta minha inconstância, estas minhas hesitações - enfim, esta minha mentira? A dúvida que tinha saído pela porta volta a entrar pela janela: haverá mesmo vida para lá do Orçamento?
2. Hipoteca do futuro: não, não é o que estão a pensar. Não é o congelamento das reformas antecipadas, não é a suspensão das promoções automáticas, não é o aumento da idade da reforma, não. É que de cada vez que houver um governo diferente ficamos com a respiração suspensa à espera do que vai acontecer. Esta deve ser mais uma das características da pós-modernidade a que ainda não me habituei: tudo o que parece certo pode alterar-se ou desaparecer a todo o momento. Reconhecemos a pós-modernidade não pelo que ,é mas por aquilo que, num mundo que nos parecia claro e familiar, vai deixando de ser. Até há pouco, confiávamos nos estatutos e nas carreiras profissionais, nas leis, nos regulamentos. Não tinham de ser imutáveis, mas deviam reger-se por alguma constância, perdurar para lá das flutuações de ocasião, de modo a sabermos com que linhas nos cosíamos. Hoje, em vez da constância, dão-nos Constâncio. A sensação, nos últimos anos, é a de que acabou a previsibilidade. Que trará o próximo Governo? Passará a idade da reforma para os 90 anos, com base no argumento da dilatação da esperança de vida? E se a clonagem avança mesmo e passamos a durar 200 anos? Não sou conservador, mas não consigo abdicar de todas as certezas. Devolvam-me algo de fixo, uma referência, um marco, nem que seja o Marco Paulo - símbolo ao menos de algo que reconhecíamos como durável. Se não fosse os americanos terem ido à Lua, nada disto acontecia. E se o Muro de Berlim não tivesse caído, também não. Valha-nos ao menos o Papa - esse muda, mas nada muda.
3. Prémio Kafka: também não é o que estão a pensar, não se trata dum prémio literário. É somente uma ideia que consiste em premiar o episódio ou o funcionário público mais absurdo do ano. Seria um incentivo à desprodutividade, cujo corolário lógico deve ser a despromoção na carreira. É que, aqui sim, eu teria ido mais longe do que o Governo: não basta suspender as promoções automáticas, é preciso desencorajar o marasmo - e, pior, o cinismo que vemos estampado na cara de muitos funcionários mal pomos o pé na soleira da porta duma repartição pública, duma escola, dum hospital. É preciso reconhecer que essa figura da promoção automática introduz um princípio de injustiça ao medir tudo e todos pelo mesmo crivo, o que equivale a dizer que premeia por igual o empenho e a competência e o desinvestimento e a incompetência. No limite, ser funcionário público pode equivaler à exibição despudorada da mais confrangedora displicência profissional, sem custos para o próprio, mas com grandes custos para todos. Não está em causa o princípio "trabalho igual, salário igual" - denuncia-se, sim, o princípio "emprego igual, promoção igual". É justamente ao funcionário mais incapaz que mais seja promovido que deve aplicar-se sem margem para dúvidas o prémio Kafka. Que horas extraordinárias se têm passado de braços cruzados à espera da promoção automática! E que horas extraordinárias se têm passado de braços cruzados à espera, mesmo, das horas extraordinárias! Se a ideia é poupar dinheiro, por que não introduzem o mecanismo da despromoção automática? Posso fornecer uma pequena lista com alguns funcionários a quem assentaria como uma manga de alpaca. E tenho a certeza de que cada português seria capaz de fazer o mesmo sem dificuldade. Isto sim era dar a machadada na engorda da besta (refiro-me ao Estado).
Repito que não percebo nada de economia política, não vou contestar a necessidade das medidas para conter o défice. Quis só dar testemunho do efeito psicológico que, sobre pessoas normais como eu, que ainda não perceberam bem o que é realmente o défice, têm as medidas agora anunciadas.
Por que é que até agora só se falava de droga e agora só se fala de défice? O défice é pior do que a droga? Quando pararem de falar do défice, regressará a droga? Qual será pior? Que droga! Se o Estado diminuir muito, se congelarmos o Estado, se ficar adiado, podemos ficar em Estado de sítio? Há, realmente, extraterrestres? Haverá seres inteligentes noutras galáxias? E vida para além do Orçamento?
(*) Professor da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto"
(in Público)
porque me considero uma pessoa solidária, defensora até de algumas utopias,
porque estou farta de ouvir na boca dos outros que a culpa é nossa,
porque é mais fácil atribuirem-nos todas as culpas do que tentar ler o que está atrás dos números,
porque até a maior parte dos funcionários públicos dá o litro, sem nunca ter ouvido uma palavra de apreço, coragem, agradecimento,
e não, nem é por andarem a brincar com as nossas expectativas (ainda sou nova, não tenho medo de trabalhar, e o meu esforço individual até foi reconhecido recentemente).
porque, acima de tudo isto, permaneço fiel aos meus princípios.
"Pensamentos íntimos de um funcionário público
Luís Fernandes (*)
De cada vez que houver um governo diferente ficamos com a respiração suspensa à espera do que vai acontecer. Esta deve ser mais uma das características da pós-modernidade a que ainda não me habituei: tudo o que parece certo pode alterar-se ou desaparecer a todo o momento.
Pronto, desfez-se o mistério. Agora já sabemos por que é que Sócrates andava tão calado: enchia pulmões para dizer tudo duma vez. E o discurso saiu como a catadupa duma enxurrada abatida sobre as nossas cabeças, já carecas doutras lutas. Desamparado, caio no soalho. Sou funcionário público, não podia ficar indiferente. Eu sei que aquilo que esperamos dum funcionário público é que funcione e não que faça confissões. Mas é chegado o momento de quebrar as ortodoxias. Não olhem para nós dessa maneira: por trás dum funcionário público há sempre uma pessoa, também temos alma, também nos magoamos e quem não se sente não é filho de boa gente. Quero pois que vejam a pessoa e não o funcionário, e toda a pessoa tem direito a desabafar. Se existem as Confissões dum Drogado, diários de lunáticos, memórias de seres bizarros e fantásticos, por que razão não haveria um funcionário público de tornar públicos os seus pensamentos íntimos? Eu sei que surpreende, também não imagino o chefe da conservatória ou o empregado das finanças a exteriorizarem tal vida interior - e no entanto sei o que sentem depois de ouvir Sócrates a anunciar as medidas do Governo para combater o défice.
As frases terríveis bailavam-me na cabeça: "convergência das pensões com as do regime geral". Nivelamento por baixo, pensei. Como no campeonato. O Benfica, o Benfica! Os pensamentos atacavam-me em tropel, desordenados, esmagadores. E Sócrates é benfiquista! Batia tudo certo - quer dizer, batia tudo errado. O que é o regime geral? E uma pensão? A cabeça latejava-me. "Que foi?", gritaram-me da cozinha. "É ele! É ele!", respondi, caindo a seguir num torpor de que só acordaria com o golo da vitória do Setúbal na final da Taça. Afinal, ainda há harmonia no mundo.
Não discuto a necessidade das medidas de restrição agora anunciadas - deixo para os economistas, deixo para os indivíduos de vocação eminentemente política. Descrevo apenas dum modo singelo o efeito psicológico deste súbito anúncio dum défice desmesurado e das correspondentes medidas de restrição:
1. Mentira: não, não é o que estão a pensar. Não sei quem nos andou a mentir: 2%, 3%, 5%, 6,83%... Sei, isso sim, que me sinto um mentiroso. Tinha dito aos amigos todos, tinha dito aqui no jornal, tinha dito no barbeiro: não voltarei a falar no défice. E zás!, aqui está o primeiro efeito indesejável das medidas do Governo: mais um golpe na minha auto-imagem. Como vou explicar aos meus filhos esta minha inconstância, estas minhas hesitações - enfim, esta minha mentira? A dúvida que tinha saído pela porta volta a entrar pela janela: haverá mesmo vida para lá do Orçamento?
2. Hipoteca do futuro: não, não é o que estão a pensar. Não é o congelamento das reformas antecipadas, não é a suspensão das promoções automáticas, não é o aumento da idade da reforma, não. É que de cada vez que houver um governo diferente ficamos com a respiração suspensa à espera do que vai acontecer. Esta deve ser mais uma das características da pós-modernidade a que ainda não me habituei: tudo o que parece certo pode alterar-se ou desaparecer a todo o momento. Reconhecemos a pós-modernidade não pelo que ,é mas por aquilo que, num mundo que nos parecia claro e familiar, vai deixando de ser. Até há pouco, confiávamos nos estatutos e nas carreiras profissionais, nas leis, nos regulamentos. Não tinham de ser imutáveis, mas deviam reger-se por alguma constância, perdurar para lá das flutuações de ocasião, de modo a sabermos com que linhas nos cosíamos. Hoje, em vez da constância, dão-nos Constâncio. A sensação, nos últimos anos, é a de que acabou a previsibilidade. Que trará o próximo Governo? Passará a idade da reforma para os 90 anos, com base no argumento da dilatação da esperança de vida? E se a clonagem avança mesmo e passamos a durar 200 anos? Não sou conservador, mas não consigo abdicar de todas as certezas. Devolvam-me algo de fixo, uma referência, um marco, nem que seja o Marco Paulo - símbolo ao menos de algo que reconhecíamos como durável. Se não fosse os americanos terem ido à Lua, nada disto acontecia. E se o Muro de Berlim não tivesse caído, também não. Valha-nos ao menos o Papa - esse muda, mas nada muda.
3. Prémio Kafka: também não é o que estão a pensar, não se trata dum prémio literário. É somente uma ideia que consiste em premiar o episódio ou o funcionário público mais absurdo do ano. Seria um incentivo à desprodutividade, cujo corolário lógico deve ser a despromoção na carreira. É que, aqui sim, eu teria ido mais longe do que o Governo: não basta suspender as promoções automáticas, é preciso desencorajar o marasmo - e, pior, o cinismo que vemos estampado na cara de muitos funcionários mal pomos o pé na soleira da porta duma repartição pública, duma escola, dum hospital. É preciso reconhecer que essa figura da promoção automática introduz um princípio de injustiça ao medir tudo e todos pelo mesmo crivo, o que equivale a dizer que premeia por igual o empenho e a competência e o desinvestimento e a incompetência. No limite, ser funcionário público pode equivaler à exibição despudorada da mais confrangedora displicência profissional, sem custos para o próprio, mas com grandes custos para todos. Não está em causa o princípio "trabalho igual, salário igual" - denuncia-se, sim, o princípio "emprego igual, promoção igual". É justamente ao funcionário mais incapaz que mais seja promovido que deve aplicar-se sem margem para dúvidas o prémio Kafka. Que horas extraordinárias se têm passado de braços cruzados à espera da promoção automática! E que horas extraordinárias se têm passado de braços cruzados à espera, mesmo, das horas extraordinárias! Se a ideia é poupar dinheiro, por que não introduzem o mecanismo da despromoção automática? Posso fornecer uma pequena lista com alguns funcionários a quem assentaria como uma manga de alpaca. E tenho a certeza de que cada português seria capaz de fazer o mesmo sem dificuldade. Isto sim era dar a machadada na engorda da besta (refiro-me ao Estado).
Repito que não percebo nada de economia política, não vou contestar a necessidade das medidas para conter o défice. Quis só dar testemunho do efeito psicológico que, sobre pessoas normais como eu, que ainda não perceberam bem o que é realmente o défice, têm as medidas agora anunciadas.
Por que é que até agora só se falava de droga e agora só se fala de défice? O défice é pior do que a droga? Quando pararem de falar do défice, regressará a droga? Qual será pior? Que droga! Se o Estado diminuir muito, se congelarmos o Estado, se ficar adiado, podemos ficar em Estado de sítio? Há, realmente, extraterrestres? Haverá seres inteligentes noutras galáxias? E vida para além do Orçamento?
(*) Professor da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto"
(in Público)
junho 01, 2005
dia mundial das Crianças
porque elas, as crianças, são o melhor do mundo.
eu adoptei
operação nariz vermelho
acreditar
famílias de afecto
unicef
repeat mode
digitar dgXX00000 400 vezes
digitar dgXX00000 800 vezes
deve dar pr'aí uma tendinite. coisa pouca. os vestígios já cá andam.
e antecipa muito a chegada do joão pestana. se quiseres podes ajudar-me.
[a necessitar urgentemente de férias. e do verde que tanto amo. de ar puro. de acordar com os passarinhos. de comer cerejas acabadas de apanhar das árvores. de ter tempo para ler. para dormir. para escrever. para mim.]
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