julho 31, 2009
Boas Ferias... para mim!!
Pois chegou a hora, é hoje que me vou. Dia 31, como custou chegar a esta data!
Vou à procura destas imagens e de outras. Quero me esquecer (pelo menos tentar esquecer!) dos dias rotineiros, das mesmas caras de todos os dias, dos mesmos caminhos percorridos à pressa diariamente, das conversas pesadas sobre as coisas da vida!
Vou pôr os meus ouvidos em dia com as novas musicas que estão aí, ouvir a Sara Tavares no "Xinti" que quer dizer "sente" em crioulo e deixar-me levar bom seu bom "feling", e tb viajar nas outras sonoridades do momento.
Vai me saber tão bem, o peixinho, o cafezinho, o geladinho, o fresquinho, o solzinho no final da tarde... e outras coisas acabadas em inho...
Bem os desejos estão formulados mentalmente! Agora é só pensar positivo!
Boas ferias a todos que estão a ir tb, como aos que irão mais semana menos semana!
julho 16, 2009
somos ricos ou tolos?
[sim todos nós! Os tugas!]
"Segunda-feira passada, a meio da tarde, faço a A-6, em direcção a Espanha e na companhia de uma amiga estrangeira; quarta-feira de manhã, refaço o mesmo percurso, em sentido inverso, rumo a Lisboa.
Tanto para lá como para cá, é uma auto-estrada luxuosa e fantasma. Em contrapartida, numa breve incursão pela estrada nacional, entre Arraiolos e Borba, vamos encontrar um trânsito cerrado, composto esmagadoramente por camiões de mercadorias espanhóis. Vinda de um país onde as auto-estradas estão sempre cheias, ela está espantada com o que vê :
- É sempre assim, esta auto-estrada ?
- Assim, como ?
- Deserta, magnífica, sem trânsito ?
- É, é sempre assim.
- Todos os dias ?
- Todos, menos ao domingo, que sempre tem mais gente.
- Mas, se não há trânsito, porque a fizeram ?
- Porque havia dinheiro para gastar dos Fundos Europeus, e porque diziam que o desenvolvimento era isto.
- E têm mais auto-estradas destas ?
- Várias e ainda temos outras em construção : só de Lisboa para o Porto, vamos ficar com três. Entre S. Paulo e o Rio de Janeiro, por exemplo, não há nenhuma : só uns quilómetros à saída de S. Paulo e outros à chegada ao Rio. Nós vamos ter três entre o Porto e Lisboa : é a aposta no automóvel, na poupança de energia, nos acordos de Quioto, etc. - respondi, rindo-me.
- E, já agora, porque é que a auto-estrada está deserta e a estrada nacional está cheia de camiões ?
- Porque assim não pagam portagem.
- E porque são quase todos espanhóis ?
- Vêm trazer-nos comida.
- Mas vocês não têm agricultura ?
- Não : a Europa paga-nos para não ter. E os nossos agricultores dizem que produzir não é rentável.
- Mas para os espanhóis é ?
- Pelos vistos ...
Ela ficou a pensar um pouco e voltou à carga :
- Mas porque não investem antes no comboio ?
- Investimos, mas não resultou.
- Não resultou, como ?
- Houve aí uns experts que gastaram uma fortuna a modernizar a linha Lisboa-Porto, com comboios pendulares e tudo, mas não resultou.
- Mas porquê ?
- Olha, é assim : a maior parte do tempo, o comboio não 'pendula'; e, quando 'pendula', enjoa de morte. Não há sinal de telemóvel nem Internet, não há restaurante, há apenas um bar infecto e, de facto, o único sinal de 'modernidade' foi proibirem de fumar em qualquer espaço do comboio. Por isso, as pessoas preferem ir de carro e a companhia ferroviária do Estado perde centenas de milhões todos os anos.
- E gastaram nisso uma fortuna ?
- Gastámos. E a única coisa que se conseguiu foi tirar 25 minutos às três horas e meia que demorava a viagem há cinquenta anos ...
- Estás a brincar comigo !
- Não, estou a falar a sério !
- E o que fizeram a esses incompetentes ?
- Nada. Ou melhor, agora vão dar-lhes uma nova oportunidade, que é encherem o país de TGV : Porto-Lisboa, Porto-Vigo, Madrid-Lisboa ... e ainda há umas ameaças de fazerem outro no Algarve e outro no Centro.
- Mas que tamanho tem Portugal, de cima a baixo ?
- Do ponto mais a norte ao ponto mais a sul, 561 km.
Ela ficou a olhar para mim, sem saber se era para acreditar ou não.
- Mas, ao menos, o TGV vai directo de Lisboa ao Porto ?
- Não, pára em várias estações : de cima para baixo e se a memória não me falha, pára em Aveiro, para os compensar por não arrancarmos já com o TGV deles para Salamanca; depois, pára em Coimbra para não ofender o prof. Vital Moreira, que é muito importante lá; a seguir, pára numa aldeia chamada Ota, para os compensar por não terem feito lá o novo aeroporto de Lisboa; depois, pára em Alcochete, a sul de Lisboa, onde ficará o futuro aeroporto; e, finalmente, pára em Lisboa, em duas estações.
- Como : então o TGV vem do Norte, ultrapassa Lisboa pelo sul, e depois volta para trás e entra em Lisboa ?
- Isso mesmo.
- E como entra em Lisboa ?
- Por uma nova ponte que vão fazer.
- Uma ponte ferroviária ?
- E rodoviária também : vai trazer mais uns vinte ou trinta mil carros todos os dias para Lisboa.
- Mas isso é o caos, Lisboa já está congestionada de carros !
- Pois é.
- E, então ?
- Então, nada. São os especialistas que decidiram assim.
Ela ficou pensativa outra vez. Manifestamente, o assunto estava a fasciná-la.
- E, desculpa lá, esse TGV para Madrid vai ter passageiros ? Se a auto-estrada está deserta ...
- Não, não vai ter.
- Não vai ? Então, vai ser uma ruína !
- Não, é preciso distinguir : para as empresas que o vão construir e para os bancos que o vão capitalizar, vai ser um negócio fantástico! A exploração é que vai ser uma ruína - aliás, já admitida pelo Governo - porque, de facto, nem os especialistas conseguem encontrar passageiros que cheguem para o justificar.
- E quem paga os prejuízos da exploração: as empresas construtoras ?
- Naaaão! Quem paga são os contribuintes ! Aqui a regra é essa !
- E vocês não despedem o Governo ?
- Talvez, mas não serve de muito: quem assinou os acordos para o TGV com Espanha foi a oposição, quando era governo ...
- Que país o vosso ! Mas qual é o argumento dos governos para fazerem um TGV que já sabem que vai perder dinheiro ?
- Dizem que não podemos ficar fora da Rede Europeia de Alta Velocidade.
- O que é isso ? Ir em TGV de Lisboa a Helsínquia ?
- A Helsínquia, não, porque os países escandinavos não têm TGV.
- Como ? Então, os países mais evoluídos da Europa não têm TGV e vocês têm de ter ?
- É, dizem que assim entramos mais depressa na modernidade.
Fizemos mais uns quilómetros de deserto rodoviário de luxo, até que ela pareceu lembrar-se de qualquer coisa que tinha ficado para trás :
- E esse novo aeroporto de que falaste, é o quê ?
- O novo aeroporto internacional de Lisboa, do lado de lá do rio e a uns 50 quilómetros de Lisboa.
- Mas vocês vão fechar este aeroporto que é um luxo, quase no centro da cidade, e fazer um novo ?
- É isso mesmo. Dizem que este está saturado.
- Não me pareceu nada ...
- Porque não está : cada vez tem menos voos e só este ano a TAP vai cancelar cerca de 20.000. O que está a crescer são os voos das low-cost, que, aliás, estão a liquidar a TAP.
- Mas, então, porque não fazem como se faz em todo o lado, que é deixar as companhias de linha no aeroporto principal e chutar as low-cost para um pequeno aeroporto de periferia ? Não têm nenhum disponível ?
- Temos vários. Mas os especialistas dizem que o novo aeroporto vai ser um hub ibérico, fazendo a trasfega de todos os voos da América do Sul para a Europa : um sucesso garantido.
- E tu acreditas nisso ?
- Eu acredito em tudo e não acredito em nada. Olha ali ao fundo: sabes o que é aquilo ?
- Um lago enorme ! Extraordinário !
- Não : é a barragem de Alqueva, a maior da Europa.
- Ena ! Deve produzir energia para meio país !
- Praticamente zero.
- A sério ? Mas, ao menos, não vos faltará água para beber !
- A água não é potável : já vem contaminada de Espanha.
- Já não sei se estás a gozar comigo ou não, mas, se não serve para beber, serve para regar - ou nem isso?
- Servir, serve, mas vai demorar vinte ou mais anos até instalarem o perímetro de rega, porque, como te disse, aqui acredita-se que a agricultura não tem futuro: antes, porque não havia água; agora, porque há água a mais.
- Estás a dizer-me que fizeram a maior barragem da Europa e não serve para nada ?
- Vai servir para regar campos de golfe e urbanizações turísticas, que é o que nós fazemos mais e melhor.
Apesar do sol de frente, impiedoso, ela tirou os óculos escuros e virou-se para me olhar bem de frente :
- Desculpa lá a última pergunta : vocês são doidos ou são ricos ?
- Antes, éramos só doidos e fizemos algumas coisas notáveis por esse mundo fora; depois, disseram-nos que afinal éramos ricos e desatámos a fazer todas as asneiras possíveis cá dentro; em breve, voltaremos a ser pobres e enlouqueceremos de vez.
Ela voltou a colocar os óculos de sol e a recostar-se para trás no assento. E suspirou :
- Bem, uma coisa posso dizer : há poucos países tão agradáveis para viajar como Portugal ! Olha-me só para esta auto-estrada sem ninguém "
"Segunda-feira passada, a meio da tarde, faço a A-6, em direcção a Espanha e na companhia de uma amiga estrangeira; quarta-feira de manhã, refaço o mesmo percurso, em sentido inverso, rumo a Lisboa.
Tanto para lá como para cá, é uma auto-estrada luxuosa e fantasma. Em contrapartida, numa breve incursão pela estrada nacional, entre Arraiolos e Borba, vamos encontrar um trânsito cerrado, composto esmagadoramente por camiões de mercadorias espanhóis. Vinda de um país onde as auto-estradas estão sempre cheias, ela está espantada com o que vê :
- É sempre assim, esta auto-estrada ?
- Assim, como ?
- Deserta, magnífica, sem trânsito ?
- É, é sempre assim.
- Todos os dias ?
- Todos, menos ao domingo, que sempre tem mais gente.
- Mas, se não há trânsito, porque a fizeram ?
- Porque havia dinheiro para gastar dos Fundos Europeus, e porque diziam que o desenvolvimento era isto.
- E têm mais auto-estradas destas ?
- Várias e ainda temos outras em construção : só de Lisboa para o Porto, vamos ficar com três. Entre S. Paulo e o Rio de Janeiro, por exemplo, não há nenhuma : só uns quilómetros à saída de S. Paulo e outros à chegada ao Rio. Nós vamos ter três entre o Porto e Lisboa : é a aposta no automóvel, na poupança de energia, nos acordos de Quioto, etc. - respondi, rindo-me.
- E, já agora, porque é que a auto-estrada está deserta e a estrada nacional está cheia de camiões ?
- Porque assim não pagam portagem.
- E porque são quase todos espanhóis ?
- Vêm trazer-nos comida.
- Mas vocês não têm agricultura ?
- Não : a Europa paga-nos para não ter. E os nossos agricultores dizem que produzir não é rentável.
- Mas para os espanhóis é ?
- Pelos vistos ...
Ela ficou a pensar um pouco e voltou à carga :
- Mas porque não investem antes no comboio ?
- Investimos, mas não resultou.
- Não resultou, como ?
- Houve aí uns experts que gastaram uma fortuna a modernizar a linha Lisboa-Porto, com comboios pendulares e tudo, mas não resultou.
- Mas porquê ?
- Olha, é assim : a maior parte do tempo, o comboio não 'pendula'; e, quando 'pendula', enjoa de morte. Não há sinal de telemóvel nem Internet, não há restaurante, há apenas um bar infecto e, de facto, o único sinal de 'modernidade' foi proibirem de fumar em qualquer espaço do comboio. Por isso, as pessoas preferem ir de carro e a companhia ferroviária do Estado perde centenas de milhões todos os anos.
- E gastaram nisso uma fortuna ?
- Gastámos. E a única coisa que se conseguiu foi tirar 25 minutos às três horas e meia que demorava a viagem há cinquenta anos ...
- Estás a brincar comigo !
- Não, estou a falar a sério !
- E o que fizeram a esses incompetentes ?
- Nada. Ou melhor, agora vão dar-lhes uma nova oportunidade, que é encherem o país de TGV : Porto-Lisboa, Porto-Vigo, Madrid-Lisboa ... e ainda há umas ameaças de fazerem outro no Algarve e outro no Centro.
- Mas que tamanho tem Portugal, de cima a baixo ?
- Do ponto mais a norte ao ponto mais a sul, 561 km.
Ela ficou a olhar para mim, sem saber se era para acreditar ou não.
- Mas, ao menos, o TGV vai directo de Lisboa ao Porto ?
- Não, pára em várias estações : de cima para baixo e se a memória não me falha, pára em Aveiro, para os compensar por não arrancarmos já com o TGV deles para Salamanca; depois, pára em Coimbra para não ofender o prof. Vital Moreira, que é muito importante lá; a seguir, pára numa aldeia chamada Ota, para os compensar por não terem feito lá o novo aeroporto de Lisboa; depois, pára em Alcochete, a sul de Lisboa, onde ficará o futuro aeroporto; e, finalmente, pára em Lisboa, em duas estações.
- Como : então o TGV vem do Norte, ultrapassa Lisboa pelo sul, e depois volta para trás e entra em Lisboa ?
- Isso mesmo.
- E como entra em Lisboa ?
- Por uma nova ponte que vão fazer.
- Uma ponte ferroviária ?
- E rodoviária também : vai trazer mais uns vinte ou trinta mil carros todos os dias para Lisboa.
- Mas isso é o caos, Lisboa já está congestionada de carros !
- Pois é.
- E, então ?
- Então, nada. São os especialistas que decidiram assim.
Ela ficou pensativa outra vez. Manifestamente, o assunto estava a fasciná-la.
- E, desculpa lá, esse TGV para Madrid vai ter passageiros ? Se a auto-estrada está deserta ...
- Não, não vai ter.
- Não vai ? Então, vai ser uma ruína !
- Não, é preciso distinguir : para as empresas que o vão construir e para os bancos que o vão capitalizar, vai ser um negócio fantástico! A exploração é que vai ser uma ruína - aliás, já admitida pelo Governo - porque, de facto, nem os especialistas conseguem encontrar passageiros que cheguem para o justificar.
- E quem paga os prejuízos da exploração: as empresas construtoras ?
- Naaaão! Quem paga são os contribuintes ! Aqui a regra é essa !
- E vocês não despedem o Governo ?
- Talvez, mas não serve de muito: quem assinou os acordos para o TGV com Espanha foi a oposição, quando era governo ...
- Que país o vosso ! Mas qual é o argumento dos governos para fazerem um TGV que já sabem que vai perder dinheiro ?
- Dizem que não podemos ficar fora da Rede Europeia de Alta Velocidade.
- O que é isso ? Ir em TGV de Lisboa a Helsínquia ?
- A Helsínquia, não, porque os países escandinavos não têm TGV.
- Como ? Então, os países mais evoluídos da Europa não têm TGV e vocês têm de ter ?
- É, dizem que assim entramos mais depressa na modernidade.
Fizemos mais uns quilómetros de deserto rodoviário de luxo, até que ela pareceu lembrar-se de qualquer coisa que tinha ficado para trás :
- E esse novo aeroporto de que falaste, é o quê ?
- O novo aeroporto internacional de Lisboa, do lado de lá do rio e a uns 50 quilómetros de Lisboa.
- Mas vocês vão fechar este aeroporto que é um luxo, quase no centro da cidade, e fazer um novo ?
- É isso mesmo. Dizem que este está saturado.
- Não me pareceu nada ...
- Porque não está : cada vez tem menos voos e só este ano a TAP vai cancelar cerca de 20.000. O que está a crescer são os voos das low-cost, que, aliás, estão a liquidar a TAP.
- Mas, então, porque não fazem como se faz em todo o lado, que é deixar as companhias de linha no aeroporto principal e chutar as low-cost para um pequeno aeroporto de periferia ? Não têm nenhum disponível ?
- Temos vários. Mas os especialistas dizem que o novo aeroporto vai ser um hub ibérico, fazendo a trasfega de todos os voos da América do Sul para a Europa : um sucesso garantido.
- E tu acreditas nisso ?
- Eu acredito em tudo e não acredito em nada. Olha ali ao fundo: sabes o que é aquilo ?
- Um lago enorme ! Extraordinário !
- Não : é a barragem de Alqueva, a maior da Europa.
- Ena ! Deve produzir energia para meio país !
- Praticamente zero.
- A sério ? Mas, ao menos, não vos faltará água para beber !
- A água não é potável : já vem contaminada de Espanha.
- Já não sei se estás a gozar comigo ou não, mas, se não serve para beber, serve para regar - ou nem isso?
- Servir, serve, mas vai demorar vinte ou mais anos até instalarem o perímetro de rega, porque, como te disse, aqui acredita-se que a agricultura não tem futuro: antes, porque não havia água; agora, porque há água a mais.
- Estás a dizer-me que fizeram a maior barragem da Europa e não serve para nada ?
- Vai servir para regar campos de golfe e urbanizações turísticas, que é o que nós fazemos mais e melhor.
Apesar do sol de frente, impiedoso, ela tirou os óculos escuros e virou-se para me olhar bem de frente :
- Desculpa lá a última pergunta : vocês são doidos ou são ricos ?
- Antes, éramos só doidos e fizemos algumas coisas notáveis por esse mundo fora; depois, disseram-nos que afinal éramos ricos e desatámos a fazer todas as asneiras possíveis cá dentro; em breve, voltaremos a ser pobres e enlouqueceremos de vez.
Ela voltou a colocar os óculos de sol e a recostar-se para trás no assento. E suspirou :
- Bem, uma coisa posso dizer : há poucos países tão agradáveis para viajar como Portugal ! Olha-me só para esta auto-estrada sem ninguém "
(Miguel Sousa Tavares - Expresso)
julho 06, 2009
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