novembro 09, 2006

"(...) Somos sombras de coisas que nos atravessam. Somos moradas transitórias de coisas fugazes e de passagem. Escrevemos os nossos nomes e ternuras em frágeis paisagens de areia, e depois um dia tudo passa. Vem o vento e leva tudo. Vem o mar e apaga tudo. Apenas as palavras resistem a esta erosão. As palavras que os livros guardam, como segredos, no fundo do coração. As palavras de ternura. As palavras que guardam todas as estrelas do mundo. Fixo o olhar numa gaivota, enquanto penso no que deverá ser ou não o sentido da vida. Os caminhos da vida. Cada vez mais me parece que a vida é um risco permanente. Um risco derivado das opções que a todo o momento têm de fazer-se. Mas o que é vida sem a esperança de se escolher o caminho certo? Sem a esperança de encontrar resposta para o absurdo que a própria vida é?”

...

"(...)Olha mais para o teu íntimo e repara como o infinitamente pequeno é infinitamente grande. Procura uma daquelas noites em que passeavas entre os castanheiros e viste a Estrela de Santiago: o que é a vida senão todo este constante pulsar das coisas? Este vaivém ininterrupto, este conhecer por dentro, isso é a respiração do Mundo. Quando as tuas mãos se juntarem, quando o dentro e o fora se unirem, no fundo do teu coração brilhará uma certeza: só o amor existe. Então, quando essa magia acontecer, pega numa flor e vai. Vai aonde o perfume te disser: terás descoberto a flor. Terás compreendido que viver e morrer são, simplesmente, o inspirar e o expirar dessa respiração universal. No meio, entre inspirar e expirar, aconteceste tu. Tu, como consciência, como vida consciente, como existência. Pensa só na sorte que tiveste!... (...)"

(Carlos Lopes Pires, in "Todas as estrelas do mundo" e "O perfume da flor")