outubro 26, 2005

pedaços meus


gosto porque gosto dos dias de chuva, de sair para a rua e sentir os pingos gelados no calor que há mim. gosto do cheiro da terra molhada numa tarde de Agosto que me lembra as pequenas sementes a guerrilhar para vingarem num solo e sorrirem ao sol.

gosto porque gosto do frio do Inverno, da lareira acesa cheia de cores quentes que nos lembra o afago de uma mão, que salpica de ternura a nossa alma... partilha. mas também gosto dos dias de Verão, dos voos rasantes das gaivotas, num fim de tarde, numa praia deserta. de sentir a areia a entregar-se aos meus passos.

gosto de abrir os braços ao horizonte que entra pelos meus olhos dentro, de crer no que há para lá dessa linha. gosto de não saber o que a vida me reserva. de não me entender com mapas. de acreditar que tudo o que vier, vem por bem. intuição.

gosto de saber não esperar, porque gosto da surpresa quando vem. gosto do sabor da vida que ela traz ao chegar. do bater do coração, do brilho do lábios, do sorriso no olhar. gosto porque gosto de confiar. porque só sei ser assim.

gosto porque gosto das flores, dos seus perfumes, das cores do quadro que pintam. de nascerem livres e livres permanecerem no seu espaço, porque também elas nos querem bem.

gosto porque gosto de ser menina, de acreditar na utopia de mudar o mundo. do encadeamento " quem salva uma vida, salva a humanidade". mas também gosto de ser mulher, de vestir o olhar de sensualidades, de envolver o corpo em mistérios meus. de tecer páginas de cumplicidades escritas a quatro mãos.

gosto porque gosto do cheiro dos meus livros. de me perder nas suas histórias para me encontrar nas folhas minhas. o (e)terno mundo das minhas palavras. só minhas. porque acredito no poder dos sentimentos. da minha constante Saudade. dos sentires.

gosto de ser a única raíz em mim. do vento que me leva para um lugar qualquer. das emoções permanecidas ao longo do dia. do render da noite, na esperança de um novo olhar.

gosto de dançar de pés descalços, sentindo a terra por baixo deles.

gosto porque gosto do silêncio que me cala, quando as pétalas se fecham ao fim do dia, porque é quando regresso a mim. e a vida é um constante regresso a nós próprios. para depois abrir as asas e levantar voo seguindo todo o sentir em cada pena, e despertar num novo lugar, porque a vida é o dar que se oferece de mãos livres. porque entendo o amor assim. livre. eterno, enquanto universal, sentido. sem nada mudar ou impor. amar por amar, como se ama o primeiro raio de sol que entra na janela e repousa na minha pele. porque não acredito nos fins nem no adeus.

gosto porque gosto. porque creio. porque em tudo sou.

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