outubro 26, 2005

retalhos de uma carta com vestígios de azul (*)


tenho as mãos manchadas de tanto azul ter escrito
(n)os momentos dispersos no tempo.

hoje já não é o azul que tinge as folhas das memórias,
guardadas que ficaram no emaranhado dos alcances das ternuras.
afectos que pintaram os sorrisos nascidos de ocasos desenhados na pele.

poderia sussurrar-te: "escuta-me..."
e as papoilas que depositaste nos meus cabelos eram ainda o castelo de areia
aberto aos horizontes da linha. lembras-te..., não havia onda de água
que não nos buscasse e não encontrasse a resposta. azul.
azul como deveriam ser todas as letras os sentires os sonhos.

rendi-me aos regressos. regressava(mo-nos) sempre,
sem perguntas, sem promessas de um novo dia.
e ofereci-te a (minha) cor. sem mais nada para dar.

...

hoje, avançando nos breves espaços da memória,
(re)encontrei uma palete de cores, onde o azul já não sobressai
nem diz as estórias das cicatrizes saradas,
mas inocência perdida pelos tempos de outrora.
hoje, avançando nos breves espaços da memória,
(re)conheço(-me) nas cores que traçam nas curvas e contracurvas
as rectas da minha vida e gosto(-me) mais assim.



(*) escrito em dois tempos distintos de mim

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