dezembro 14, 2005

de mim

fizeste-me lembrar algo que escrevi há alguns anos atrás:

e se eu amasse
a cada sussurrar do vento que trespassa uma janela,
a cada céu azul que se funde na minha alma,
a cada estrela do mar que as ondas afagam.

e se eu amasse
a cada levantar da madrugada que grita a imensidão de um oceano,
a cada raio de luar que me entrega as palavras de um olhar,
a cada voo de uma pomba que anuncia a paz.

e se eu amasse
e me perdesse
para me encontrar em cada linha da tua mão,
em cada pedaço do teu corpo.

e se eu te amasse na terra dos sonhos.

está guardado numa pasta, num conjunto de cerca de 30 páginas, a que dei o nome de terra dos sonhos. na altura, provocou um enorme burburinho no local onde foi publicado, que não sei explicar. escritos que, apesar de já não sentir nada quando lhes toco, tento sempre não remexer.

desse tempo sobraram imensas folhas. guardados num dossier. ficaram duas pessoas para o resto dos meus dias. a minha alminha e o Gonçalo, no Porto. resta um cd duplo de Jorge Palma, ao vivo. que não oiço. sobrou, em demasia, a mentira. a ilusão. e muitas outras coisas que custou a ultrapassar. foi um dos tempos mais sombrios de toda a minha existência. escrevia muito e a minha vida resumia-se a uma palavra. espera(s). e tinha, até então, o hábito de atribuir músicas às pessoas que, de algum modo, me povoavam a vida. Jorge Palma pertence a essa banda sonora. a minha terra de sonhos, dos sonhos entretanto destruídos que fizeram de mim aquilo que sou hoje.

tive de virar a página e comecei a escrever novas cores. a minha escrita mudou muito. ficou mais forte. e cresci. inevitavelmente. felizmente, não perdi a esperança nem o riso dos meus olhos. deixei de acreditar unicamente nas palavras mais bonitas e passei a dar muito mais valor aos actos. ao gesto. as acções. ou a falta delas que me movimenta. a palavra não acompanhada de movimento, depois de espremida, é nada. talvez seja por isso que deixe o telemóvel ligado de noite, se alguém precisar. como tantas as vezes a minha alma o fez comigo. talvez seja por isso que lhe tenha oferecido um massajador de cabeça no dia em que fez o exame. talvez seja por isso que lhe telefone ou vá ter com ele, quando sinto que precisa de mim. não pergunto. ajo. talvez seja por isso que dê tanto valor ao 11 de Agosto que ajudaste a construir. (já) não acredito em esperas. prefiro procurar e questionar. porque, de Jorge Palma, hoje escolho, enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar.


[em jeito de desabafo. soube muito bem escrever isto. obrigada linda.]

5 comentários:

izzolda disse...

As lágrimas (sejam sob a forma de palavras ou físicas) lavam-nos mesmo a alma. Que bonito texto, Margarida, gostei muito!
Quanto às esperas, acho que são sempre melhores as procuras :)

Anónimo disse...

Esse poema é magnifico amiga. É preciso de facto SENTIR verdadeiramente para escrever algo assim. Fico feliz que este meu momento de luz te tenha tocado tanto para ires remexer no "baú". Por vezes é bom limpar a alma...
Um beijo enorme

Margarida disse...

quando faltam as palavras com som e tom, fica o abraço sincero e o meu beijo terno :)




(é estranho... jurava que vos tinha deixado uma msg aqui, pela hora d'almoço.)

Anónimo disse...

gostei muito do poema=)

Margarida disse...

um beijinho Carla, amiga da gnominha :)